Estudo estima uma morte evitada a cada 36 segundos no Brasil em decorrência da adoção do distanciamento social
Responsáveis pela plataforma “Vidas salvas no Brasil pelo isolamento social”, o professor Paulo da Silva e Silva e a pesquisadora Claudia Sagastizábal, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp, alertam que não é o momento para desacelerar as medidas de distanciamento social.
O estudo, que estima uma morte evitada a cada 36 segundos no Brasil em decorrência da adoção do distanciamento, mostra uma nítida aceleração da pandemia da Covid-19 no país após novembro de 2020. Na avaliação dos professores, com o início da vacinação contra a doença, agora é hora de encarar as medidas de bloqueio da transmissão de forma ainda mais enfática, tendo em vista que se sabe que há luz no fim do túnel.
“A vacina é uma maneira de ter mais força para fazer isolamento social, pois agora vemos que vai ter fim. Em março era fazer o isolamento social na esperança de que a ciência elaborasse uma vacina em prazo curto. Agora eliminamos essa dúvida. Existem problemas de escala, mas uma dúvida elementar foi eliminada, então vale a pena manter o processo agora e salvar as vidas”, observa o professor Paulo José da Silva e Silva.
A pesquisa “Vidas salvas no Brasil pelo isolamento social” projeta, desde março, uma estimativa das mortes evitadas pela adesão ao distanciamento social. A última atualização, de 26 de janeiro, mostra que uma vida é salva a cada 36 segundos. Projeta-se que só no dia 27 de janeiro, 576 vidas foram salvas pela medida de distanciamento. Para chegar a essa estimativa, é utilizada a taxa de reprodução do novo coronavírus, ou seja, para quantas pessoas um infectado transmite o vírus.
Os pesquisadores alertam que esse número já esteve próximo ou abaixo de 1, mostrando uma estabilidade e até queda na evolução da pandemia, como no caso do mês de setembro de 2020. A partir de novembro, no entanto, a taxa reprodução volta a ficar acima de 1, com especial aumento em determinadas regiões do país, como o Norte, revelando uma segunda onda da Covid-19 no Brasil.
“No Norte o que deixa mais preocupado é que está em 1.46, que é uma das taxas mais altas que tem. O que a gente vê é que existe de fato uma segunda onda estabelecida e parece que estamos perdendo a situação. Já voltamos ao patamar do número de doentes que tínhamos no pico passado. No Brasil como um todo já passamos do pico e os gráficos apontam para cima, o que nos deixa preocupados”, indica Paulo.
Já no Sudeste, ressalta a pesquisadora Claudia Sagastizábal, o estudo mostra o aumento do número dos infectados ativos, ou seja, daqueles que estão com o vírus e ainda podem transmitir a doença. Esse número, atualmente, é maior que aquele registrado no primeiro pico da pandemia, em meados de agosto. Só em São Paulo houve, em janeiro, foi registrado o dobro de casos e mortes por Covid-19 em relação a novembro.
“É um momento de alerta máximo e retorno a um maior isolamento para conter mais uma vez o crescimento da curva ganhando tempo para o início do processo de vacinação em massa. Precisamos evitar que a situação se agrave e os sistemas de saúde pública fiquem por demais pressionados”, frisam os pesquisadores no site do estudo.
Claudia ainda indica que o mais importante na pesquisa, além do cálculo do número de vidas salvas, que mostra a eficácia do isolamento social, é a possibilidade de observar tendências. No momento, aponta, os números mostram um agravamento. “Os gráficos estão mostrando uma tendência para cima. Essa tendência é preocupante”, afirma.
O número de novos casos em 26 de janeiro, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa que realiza o levantamento, foi de 63.626, totalizando mais de oito milhões de pessoas que já tiveram a Covid-19 no país. A média móvel de mortes também foi a maior registrada desde 4 de agosto, chegando a 1.058 óbitos por dia na média dos últimos sete dias. Quase 219 mil pessoas já perderam a vida para a doença no Brasil.
Distanciamento social é ainda necessário
As medidas de bloqueio de transmissão, enfatizam os pesquisadores, seguem sendo de extrema importância, mesmo com o início da vacinação, já que ainda há uma proporção baixa de pessoas imunizadas. “Há um fato que é inegável: o vírus não tem pernas, quem empresta as pernas são as pessoas. Ele passa de uma pessoa a outra através de um contato próximo. O que temos para combater a velocidade de transmissão é o distanciamento social”, analisa Claudia.
A vacinação ainda deverá percorrer um processo longo, o que exigirá um fôlego da população para não se descuidar até que haja uma percentagem significativa imunizada. “Em relação às vacinas estamos vendo que ainda há uma proporção ínfima até mesmo para quem está na linha de frente. Então esse vai ser um processo demorado que vai levar talvez o ano inteiro, por isso não podemos baixar a guarda com as medidas de distanciamento social e de uso de máscara”, pontua.
Na avaliação de Paulo, esse é um momento de esperança, mas em que não pode se perder de vista que há uma sobrecarga do sistema de saúde e um alto número de doentes e de óbitos. Na região de Campinas, lembra o professor, chegou a haver 100% de lotação dos leitos públicos para Covid-19 na noite do último sábado, 23 de janeiro. “Uma das coisas que temos agora e que não temos antes é a vacina, mas a existência da vacina não deve ser vista como um momento de relaxar, e sim como um momento de esperança”, diz.