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Ivo Perelman, saxofonista brasileiro radicado em Nova York, traz a São Paulo sua visão mística da música em companhia do pianista americano Matthew Shipp

Roger Marzochi, do @entresons.com.br

Os impressionistas buscavam captar a luz no exato momento da pintura. Artistas como Van Gogh, por exemplo, chegaram ao extremo. Em seu quadro “Noite Estrelada”, ele retratou a turbulência em espiral que flui na expansão da luz – fenômeno reconhecido até mesmo pela ciência. O saxofonista brasileiro Ivo Perelman vai além. “Quero não só captar a luz, mas tudo”, diz o músico, radicado nos Estados Unidos desde a década de 1980.

“Eu tento captar a totalidade da minha experiência corpórea e espiritual, a fisicalidade que me rodeia. E a minha luta e o meu processo é ser cada vez mais honesto com essa captura. E mais eficiente. Busco tirar pensamentos estranhos e distrações e entrar na vibração simplesmente do ser como tal, como zen. Me mesclar com meu meio ambiente, com meus outros manos, com o planeta, com os planetas da Via Láctea e com o Universo. É uma experiência mística, eu nunca quis ser artista para outra coisa.”

Expoente mundial do free-jazz, Perelman e o pianista americano Matthew Shipp se apresentarão em São Paulo, dias 11 e 12 de julho, no Sesc Pompeia, com vários motivos interplanetários para comemorar. Na semana da apresentação no Brasil, o duo lançará uma caixa com quatro CDs batizada de “Efflorescence”. Este será o centésimo trabalho da carreira de Perelman, 58 anos, que também completa 30 anos de estrada desde o seu primeiro trabalho, “Ivo”.  

Até o fim do ano, uma nova caixa com mais quatro CDs será lançada, que representam os oito dias de estúdio que Perelaman e Shipp se reuniram. “Eu encontrei o parceiro cósmico para isso. Dá até medo. Porque como é que a gente pode ir para o mesmo caminho na mesma hora, com a mesma intenção, potencial e inércia de ideias? Me dava medo, e a ele também”, diz Perelman, sobre o fato de o músico ter transcendido aos acordes.

Na música, há uma progressão de acordes e melodias que os instrumentistas devem seguir. No estilo musical de Perelman, não se combina com a banda nada disso: tudo é improviso ao vivo. “Eu acho que as escalas (musicais) são uma desculpa, na minha opinião, para a gente se conectar energeticamente com o universo”, explica.

“Há centenas de escalas, mas nada disso importa. A gente cresce ouvindo uma escala menor no momento do filme em que a mocinha chora. E aí você associa culturalmente as escalas menores à tristeza. Mas o árabe não. Ele tem aquelas outras escalas, para ele uma escala menor é diferente. E o chinês, idem. Todo homem e toda cultura têm as suas escalas. Mas se é triste, alegre, feliz, gorda, magra, azul e amarelo, não importa. É só um modo que a evolução encontrou para gente de nos propiciar uma conexão energética com essa coisa maravilhosa que é a música, que é a materialização de energia. Música é a materialização energética, só isso.”

Há 20 anos, o instrumentista se enveredou pelas artes plásticas e ainda lançará no próximo mês uma plataforma de exibição e de comércio eletrônico de suas obras. “A pintura tem sido um grande mestre”, afirma. “Porque eu olho para um pedaço de papel nú, sem nada. E se eu tentar racionalizar, recriar, pensar, não sai nada. E se sai, sai duro. Todo dia, quando eu pinto, é o movimento da mão. O gesto está saindo do meu corpo e está saindo da minha alma, está saindo da minha conexão de outras almas e vibrações exotéricas de todos os seres. Então eu aprendo muito.”

Seu estilo visceral na música, que chega a assustar alguns ouvidos acostumados a “Shallow Now”, não deixa de ser uma forma de mostrar que é possível sim conhecer outras civilizações de outros planetas: a fusão do corpo e da mente, em plenitude, é capaz de alcançar velocidades maiores que a da própria luz. Acompanhe abaixo trechos da entrevista realizada no dia 5 de junho, por meio de vídeo conferência no Instagram.

entresons.com.br Os impressionistas buscavam captar a luz no exato momento da pintura. Você também se enveredou pelas artes plásticas, mas há também em sua música essa intenção dos impressionistas. O que você busca captar com a sua música?

Ivo Perelman – Boa associação com os impressionistas. Eu tento captar a totalidade da minha experiência corpórea e espiritual, a fisicalidade que me rodeia. E a minha luta e o meu processo é ser cada vez mais honesto com essa captura. E mais eficiente. Busco tirar pensamentos estranhos e distrações e entrar na vibração simplesmente do ser como tal, como zen. Me mesclar com meu meio ambiente, com meus outros manos, com o planeta, com os planetas da Via Láctea e com o Universo. É uma experiência mística, eu nunca quis ser artista para outra coisa, porque sai muito de dentro de mim. Não é um negócio do tipo, vou lá ganhar x dinheiro. É uma necessidade vital. Eu quero captar não só a luz, mas tudo. E a música ganhou muito quando eu comecei a pintar, há 20 e poucos anos. Eu comecei a pintar por pura intuição. Eu não fiz escola. Eu fiz escola de música, confesso que não ajudou em nada. Fiquei um ano na Berklee (Berklee School of Music, em Boston, EUA). E com muitos professores particulares, muito obcecado pela técnica. E no fundo no fundo é isso que te expliquei, é a experiência mística que vale para mim. Mas na pintura nem isso eu fiz. Eu não estudei perspectiva, nada. Eu me joguei. E foi onde eu aprendi as lições mais importantes. Que para um artista, pelo menos para mim, a conexão com o eu mais profundo, místico, universal e cósmico é a grande jogada, é o meu percurso.

entresons.com.brA pintura tem te ajudado em sua música, em suas criações?

Ivo Perelman – A pintura tem sido um grande mestre. Porque eu olho para um pedaço de papel nú, sem nada, e se eu tentar racionalizar, recriar, pensar, não sai nada. E se sai, sai duro. Todo dia quando eu pinto é o movimento da mão. O gesto está saindo do meu corpo e está saindo da minha alma, está saindo da minha conexão de outras almas e vibrações exotéricas de todos os seres. Então eu aprendo muito. Tem dias que a mão está soltinha, e ela é um porta-voz da linguagem quântica do universo, vamos dizer assim. Tem dias que ela está dura, e me pergunto porque minha mão está assim e o desenho não sai tão fluido? Penso que é porque algum pensamento meu, do meu animal racional, ocidental, de dez mil anos de agricultura, filosofia e língua, influenciou. Eu quero ser o animal animal, não o animal racional quando eu faço arte. Mas é impossível. A gente é um hibrido, a gente é uma mistura disso. E tento conviver pacificamente com esses dois lados. Mas me dá mais prazer quando eu sou simplesmente, e a arte espelha essa dinâmica.

entresons.com.brQuando você teve esse despertar para essa vibração? O estudo musical busca nos adequar a formas, padrões – como as escalas – para conseguirmos expressar nossas emoções, participar de movimentos artísticos. E o free-jazz é uma libertação dos padrões. O John Coltrane ao chegar nesse ponto do free-jazz é como se ele conseguisse colocar o espírito livre nos sopros. E você tocava bossa nova, samba. Como você teve esse momento de despertar para essa expressão visceral?

Ivo Perelman – Eu era violonista no Brasil. Violão clássico, desde os seis anos. E já me apresentava e tudo. E já tocava bem e estava indo para um caminho de concertista, fazendo pequenas apresentações e tudo. Mas eu tinha um problema. Criar uma música memorizada ou lida não me satisfazia. Eu até enganava minha professora, muito doce, aliás. Guardo-a na memória, a Sueli de Souza, não sei onde ela anda hoje em dia. Eu a imitava, fingia que sabia ler, nem sabia ler direito. Eu demorei muito até saber quem eu sou. Primeiro que do violão eu fui para a guitarra, para o baixo para o violoncelo. Passei anos sem achar um instrumento, clarineta, sax alto… Um belo dia eu estava no Bove (Giuseppe Bove, um grande luthier de São Paulo), e coloquei na boca num sax tenor. Nesse momento, senti uma coisa incrível. Senti que era um bicho, um animal, uma coisa gritando que não dependia de mim. Foi meu primeiro insight do que eu seria para o resto da vida. Aí foi um longo percurso até entender o que era linguagem. Qual linguagem retrata melhor aquilo que eu sou. Fui para Berklee, quis aprender a tocar como o Sonny Rollings, John Coltrane e Hank Mobley. Estudei os solos, toquei em 12 tons e ainda não estava feliz. Falei: meu Deus do céu, o que estava errado comigo?

entresons.com.brVocê estudou só um ano lá…

Ivo Perelman – Saí de Berklee, em Boston, e fui morar em Los Angeles, na Califórnia. E lá é muito mais conservador ainda e eu estudava com um professor que queria que eu tocasse bebop direitinho. E, uma noite, eu estava fazendo uma gig de fim de ano, de Reveillon, para ganhar um dinheiro, e era uma hora de fazer um solinho em “Garota de Ipanema”. E eu desembestei. Eu não aguentei. E comecei a tocar, achando que estava abafando. Guinchando, fazendo um monte de barulhos. Ficou um clima horrível lá no restaurante, na Sunset Boulevard. Eles falaram para eu parar de tocar. Deprimido, fui para a praia ter uma conversa comigo e com Deus. O que é que eu faço com a minha vida? Parece que eu não tenho talento para essa coisa. Onde eu vou eu acabo não me dando certo. Vou voltar para o Brasil, vou estudar flauta e quem sabe lá eu acompanho algum cantor. Fui procurar um professor de flauta. Esse professor acabou sendo o meu mentor, que me disse que eu tocava de forma bacana, me disse para gravar um CD. E uma coisa levou a outra e acabei gravando meu primeiro CD, “Ivo”, que aliás, está fazendo 30 anos.

entresons.com.br E esse show no Brasil vai comemorar esses 30 anos?

Ivo Perelman – Esse show no Sesc vai comemorar várias coisas, entre elas 30 anos de carreira. E esse primeiro CD que foi o “Ivo”, eu ainda era meio sem jeito, toquei teminhas de criança e sai improvisando livremente. Eu não sabia que eu era quem eu sou. Coloquei uma melodia no começo. Hoje já não tem mais nem melodia, é improviso. Foi nessa gravação que eu senti essa conexão, esse foi o Dia D. A música é um percurso espiritual, religioso, para mim. Então, daí para frente, foi assim. E estou estudando muito profundamente música árabe e persa. Os ritmos, é muito bonito. São variantes muito complexas, sutilizas de escalas. Eu acho que as escalas são uma desculpa, na minha opinião, para a gente se conectar energeticamente com o Universo. Escalas maiores, menores, aumentadas… há tantas! Você muda um semi-tom muda o nome da escala. Há centenas de escalas, mas nada disso importa. A gente cresce ouvindo uma escala menor no momento do filme em que a mocinha chora. E aí você associa culturalmente as escolas menores à tristeza. Mas o árabe não. Ele tem aquelas outras escalas, para ele uma escala menor é diferente. E o chinês, idem. Todo homem e toda cultura têm as suas escalas. Mas se é triste, alegre, feliz, gorda, magra, azul e amarelo, não importa. É só um modo que a evolução encontrou para gente de nos propiciar uma conexão energética com essa coisa maravilhosa que é a música, que é a materialização de energia. Música é materialização energética, só isso. Na Berklee, um acorde de dó com sétima e nona diminuta… eu ficava decorando as escalas! Eu ia ser muito infeliz. Do jeito que sou hoje sou mais feliz. Mas estou aberto a esse discurso cultural, do bebop, e vou até a energia pura, estou aberto: o que cair no meu caldeirão eu faço minha sopa. Sem problemas.

entresons.com.brComo ocorre a progressão de acordes na sua música? Vocês combinam o caminho ou tocam livremente sem combinar os acordes? Como se dá esse processo?

Ivo Perelman – A segunda hipótese.

entresons.com.brAs suas composições são escritas ou é improvisação do início ao fim?

Ivo Perelman – A segunda alternativa. A improvisação é a própria notação ao vivo. E com o Matthew eu encontrei o parceiro cósmico para isso. Dá até medo. Porque como é que a gente pode ir para o mesmo caminho na mesma hora, com a mesma intenção, potencial e inércia de ideias? Me dava medo, e a ele também. Às vezes você não conhece uma moça que era a sua cara metade? Ainda existe essa história. Tem casamentos lindos, 30 anos e se amam ainda. Eu e o Matthew é um casamento musical, é realmente um achado. De todos os músicos maravilhosos que conheci e aprendi, ele é o que divide comigo essa coisa mágica. Imagina se a gente vai discutir… Quando você tem uma riqueza tão grande e espontânea, porque você vai perder tempo e estragar dizendo dó menor, dó maior, etc… Mas nunca! A música com ele é tão rica, rítmica, harmônica, melódica, espiritual. Nós que estamos executando a música também não acreditamos. Olha para onde foi, porque não é o dedo que toca, nem a mente. É uma força inexplicável. É exotérico mesmo, porque tudo dá certo. É isso.

entresons.com.brComo você vê esse momento de violência com a ascensão da extrema direita no Brasil e em vários países do mundo? Você acha que a música e a arte têm um papel importante para a busca de consensos?

Ivo Perelman – Eu acho que é pertinente o meu trabalho. A música é uma linguagem artística muito poderosa. E ainda mais hoje, com esse processo. A música tem poder de limpar o karma da consciência universal e poder para mostrar caminhos. A polarização é inerente à condição humana, e sempre vai existir. Tentar evitar isso é tolice. Mas sempre a gente tem que investir na proliferação das linguagens artísticas. Acredito que a arte vai liberar o homem e vai levar ao renascer de uma sociedade menos totalitária, menos polarizada, menos endurecia. E vejo com bons olhos, a pesar de tudo. Vejo de uma forma otimista. A polarização está acontecendo sob os olhares de todos, sobre a visão das redes sociais, e não entre quatro paredes. É mais fácil saber o que acontece hoje. Eu vejo de forma otimista. A espécie humana está em processo de transição. Só temos dez mil anos da revolução agrícola. Antes disso, por 2,5 milhões de anos, erámos quase bestas caçadoras-coletoras, sem jazz, sem literatura, sem pílula anticoncepcional, sem camisinha.

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