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Saxofonista Vinícius Chagas lança seu segundo disco autoral, exorcizando seus demônios e refletindo tempos turbulentos

Roger Marzochi, do entresons.com.br

Eu me envolvi muito na primeira década dos anos 1990 com a faculdade de jornalismo da Unimep, em Piracicaba. Professores incríveis como Ana Maria Cordenonsi, que promovia rodas-vivas e práticas de vários estilos de redação jornalística; Belarmino César, que fazia um mergulho na teoria da comunicação de massa; e Regina Davalle, que me incentivou a ser bolsista em projeto de ciências sociais. E, entre tantos bons professores, havia o Rondon de Castro. Ele brincava dizendo que, mesmo que uma bomba atômica explodisse, haveria sempre um editor mandando um repórter para o local para descrever a cena. Nem que, ao gesticular ao repórter sobre o imperativo da pauta, seus braços caíssem em decorrência da radiação.

Há na arte o mesmo envolvimento. Os artistas anteveem as disfunções sociais e as retratam, ou usam a estética para expressar a superação de tragédias. “Uma bomba sobre o Japão / Fez nascer o Japão da paz”, canta Gilberto Gil em “Paz”. Alguns, adotando essa linha, seguem o que o pianista Benjamim Taubkin pensa sobre o papel da arte, que seria o de mostrar caminhos sem chocar o público. Como a triste beleza de “Retirantes”, de Cândido Portinari, e “Aqui Estamos com Milhares de Cães Vindos do Mar”, da companhia Os Barulhentos, numa incrível fusão de textos do romeno Matéi Visniec.

Por outro lado, alguns artistas tornam o mundo mais sombrio, como o inacreditável “Dilúvio” que Gerald Tomas fez cair em 2017, em São Paulo. Alguns aspectos da estridência sonora dessa peça vieram à mente agora, escutando “Warzone”, o segundo disco do jovem saxofonista Vinícius Chagas, lançado no dia 18 de janeiro deste guerrilheiro ano de 2019. Em 2015, eu havia participado de um workshop com Mr. Chagas, uma pessoa calma e que me dava dicas sobre como chegar perto do que o maestro Itiberê Zwarg pedia. O multi-instrumentista da banda de Hermeto Pascoal cantava as notas e os músicos as captavam no ar, tocando-as na hora. Ouvia com grande admiração a todos, especialmente Chagas, cuja linha melódica era incrível.

A grande surpresa foi perceber o caminho autoral que esse músico está seguindo, carregado em velocidade de execução e gritos muito próximos do completo desespero, desalento e desamor. Sua fascinação pelo jazz de Miles Davis e Charlie Parker estão nítidos em seu swing e na fotografia que escolheu para ilustrar o seu WhatsApp, embora suas dissonâncias o deixem mais próximo de Ornette Coleman e do free-jazz. Mas, afinal, porque você grita?

“Eu cresci em igreja evangélica, ouvindo muita música gospel. E música raiz, samba, por influência do meu pai. Isso está dentro da minha musicalidade. Tem uma coisa melódica, mas tem uma tristeza. Todos esses fragmentos são coisas da minha vida pessoal que se refletem na música”, explica o saxofonista. “A maneira de tocar vem da influência da minha vivência, minha personalidade. Reflete o jeito que eu toco, reflete mais a minha personalidade que o momento. As composições podem ter minha maneira de tocar, que desenvolvi há anos.”

O músico, que nasceu em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, começou a tocar na igreja. Entrou para uma banda de dixieland, subgênero do jazz nascido em New Orleans. Com o crescente interesse e estudo musical, Chagas se mudou para São Paulo após conseguir ser aceito na antiga ULM, hoje Emesp Tom Jobim, em São Paulo. Além de seu grupo, Chagas também é integrante do projeto Jazz na Kombi, parceiro do trombonista Bocato, um dos grandes nomes da música instrumental brasileira, e integrante da banda Aláfia, que se apresentará no Lollapalooza, em show no dia 7 de abril.

O disco novo foi gravado há dois anos, portanto, após um período crítico em decorrência do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o início do governo desastroso de Michel Temer. E hoje, principalmente por causa da capa do disco, “Warzone” não deixa de representar um momento delicado na história mundial, com a ameaça latente de retorno da da Guerra Fria, com a volta da disputa sobre armas atômicas entre Rússia e Estados Unidos, e a ascensão da extrema direita no continente americano.

“Eu acredito que há um reflexo do momento em que estávamos vivendo. A gente faz arte e estamos interligados com a sociedade. Muita gente fala que o primeiro disco foi dramático e que o atual também é. Não que eu queria fazer drama, mas são histórias da minha vida. Mas não é só coincidência (o fato de o disco refletir a crise social e política). Pensando em um plano maior, a arte sintetiza muito o momento em que a gente vive. A arte sempre foi bem expressiva, conversa com o que está acontecendo na sociedade.”

Vinícius explica que a palavra warzone simboliza, entre os músicos de jazz norte-americanos, o momento no qual suas mentes estão em ebulição durante as improvisações. Para ele, essa zona de guerra seria esse momento que, para ele, é preciso sentir, mas também pensar. “É uma zona de guerra na qual você não pensa, mas você tem que estar pensando”, diz ele, contradizendo os ensinamentos de Zwarg para quem pensar a música, ao invés de senti-la, é morte certa. “É uma zona de guerra que pode definir se você vai viver ou morrer. É um lugar futurista de criação, uma zona de guerra que você precisa viver. O objetivo é a vida.”

O grupo é formado por Fernando Amaro (bateria), Thiago Alves (contrabaixo acústico) Gabriel Gaiardo (piano elétrico e acústico), Robinho Tavares (baixo elétrico), Adauto Dias (guitarra), Allyson Bruno (percussão), Clayton Souza (sax tenor e soprano) e Maycon Mesquita (trompete). Chagas diz que gravou “Warzone” pensando em Miles Davis. “Eu fiz inspirado nos discos do Miles. Os caras erram, se desencontram e se encontram, é o som… Os discos do Miles têm ele falando e dando esporro, o que prova que os caras são humanos. Ninguém é perfeito. O negócio tão polido não me atraia muito. O equilíbrio é o mais certo.”

Um novo disco deverá sair neste ano. Com a Aláfia, Chagas viajou recentemente para Istambul, na Turquia. E foi dentro do Grand Bazaar, um dos mais antigos mercados do mundo, que o músico teve a ideia de gravar um novo disco que se chamará “Cota Racial”, somente com músicos negros. Como líder de bandas, Chagas explica que aprendeu a lidar com o ego. “A gente é muito vaidoso, o que não serve para bosta nenhuma. Por gravar sempre e liderando, aprendi muitas coisas sobre o ego. A gente estuda muito. Os desânimos são reflexos do seu ego. Se ele não concorda, você vai ficar mal. É uma maneira de melhorar como pessoa. Quanto mais quieto seu ego ficar, melhor. E sempre é frustrante alimentar o ego.”

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